segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Eu não quero que meu filho seja gay

Pois é. Admito. Mea culpa.
Eu não quero que meu filho seja gay. Não, não quero.
Eu não quero que minha filha seja lésbica.
Eu não quero que meu filho seja deficiente.
Eu não quero que meu filho, em qualquer dia da vida dele, caia e rale o joelho.
Eu não quero que minha filha tenha febre ou cólicas.
Eu não quero nunca que meu filho ame alguém e perca.
Eu não quero nunca que minha filha se apaixone por alguém que não sente o mesmo por ela.
Eu não quero que meu filho sofra.

É, eu sei. É inútil. É a vida e muitas coisas que não quero acontecerão.
Nosso mundo não é perfeito e, tenho consciência disso: não haverão tantas mudanças nos próximos 20, 30 anos.

Eu não quero um filho homossexual.
Porque ele sofrerá. Muito.
Da mesma forma como vejo meus amigos, tão queridos, sofrendo. Disfarçando em público, ao saírem com seus amores, fingindo amizade.
Porque eu quero, pro meu filho, a liberdade que tenho hoje, de beijar e abraçar meu amor em qualquer lugar. Ah Brasil, ainda tão atrasado!
Eu sou hetero e não me orgulho.
Assim como não me orgulho de ser mulher, ou de ter olhos claros, ou a pele branca. A genética me fez assim, é como sou. Me resta aceitar e fazer o melhor com isso.
Eu me orgulho do meu caráter, das minhas conquistas, dos meus amigos. Isso sim. Porque nossas atitudes nos moldaram às pessoas que somos, e isso me deixa feliz.

Eu não quero um filho gay.
Porque me dói cada vez que leio uma notícia de ataques a pessoas condenadas pelo crime de andarem de mãos dadas.
Eu não quero que meu filho passe por nada disso.
Eu quero que ele seja saudável, forte, nunca pegue uma gripe, não tenha uma única cicatriz, seja inteligente, doce e sensível, ame e seja amado, e todos seus sonhos se tornem realidade.
Mas a vida é difícil.
A vida dói.
E sai do nosso controle.

E me dói ter que aceitar isso.
Se meu filho for gay, ele sofrerá preconceito.
Essa reação inútil e desvairada que leva algumas pessoas a atos que não consigo compreender.
Se meu filho for gay, ele vai sofrer.
Ele vai amar alguém que não o ama. Ele vai se apaixonar por alguém que tem medo. Ele ouvirá risadinhas e gracinhas. Ele terá relacionamentos que não o levarão a lugar nenhum, ele vai ter dificuldades em achar sua metade.
Se meu filho for gay, ele terá os mesmos problemas de um hetero.







E eu não quero, não posso.
Porque meu filho não pode sofrer. Ele precisa ser protegido e amado e viver em uma concha à prova de todas as maldades do mundo.
Então, o que eu posso fazer se, apesar de meus desejos de mãe, ele for pecado dos pecados, homossexual?
Bom, eu farei o mesmo que farei se ele for hetero.
Vou alertá-lo para pessoas que só querem se aproveitar.
Vou dizer "mas eu não te avisei?" quando ele me ignorar e se machucar.
Vou consolá-lo com sua comida preferida e alguma comédia boba.

Se meu filho for gay, eu vou pedir conselhos a todos meus amigos. Àqueles que sofreram com isso. Àqueles  que sentiram o que era crescer vendo seus amiguinhos de "um jeito diferente". Vou perguntar como protegê-lo. Como fazê-lo se sentir amado, querido, protegido.
Se meu filho for gay, ele vai sofrer.
Mas eu vou estar ali quando ele precisar.
Nas noites de choro. Quando aquela pessoa que parecia tão incrível teve a pior atitude imaginável.
Eu vou estar ali, quando ele estiver cabisbaixo e me contar, com vergonha no rosto, que riram dele e o chamaram de nomes pejorativos.
Eu vou estar ali.

Se meu filho for gay.
Se minha filha for lésbica.

Porque, independente de suas escolhas, independente de seus desejos, eu confio no seu caráter.
E confio no caráter do meu filho não-nascido.
Eu sei que ele será o melhor que puder ser.
E eu estarei ali, não importa o que aconteça.


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