quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Porque dá pra amar sem dizer

Quando o tempo na ampulheta acaba, sempre restam alguns grãos de areia na parte superior. É como se um restinho de tempo não quisesse correr. Claro que isso é apenas reflexo de alguma relação de estática e movimento no vidro.
Mas como meu ofício é escrever, e não entender leis de física, minha mente gira e voa pensando nos pequenos grãos agarrados ao vidro.


Nos meus poucos anos de vida, o tempo sempre foi bem generoso. Mas assim como a todos, a mim também pareceu que os momentos bons corriam como areia fina entre meus dedos, enquanto que as horas ruins me faziam crer que todos os relógios do mundo haviam quebrado.

Agora, sozinha nessa cama tão fria, os ponteiros e areias congelaram.
Mais tarde, quando minha pele encontrar os lábios dele nesses mesmos lençóis tão acolhedores, as horas vão voar…

domingo, 23 de outubro de 2011

Mudar não dói. Crescer, sim.

Ah, eu sou uma apaixonada.
Daquelas bem bobas, daquelas bem bestas.
Que ouve 20 vezes seguidas a mesmíssima música, só porque lhe lembra a pessoa amada.
Que deixa bilhetinhos amorosos escondidos dentro da carteira só pra que ele sorria durante o dia, quando encontrá-los.
Daquelas que acha que um amor é pra vida toda.

E aí eu me apaixonei. E obviamente achei que era pra vida toda, e larguei tudo. Sim, eu também sou dessas que entrega " o coração nas mãos do outro e dizer: toma, faz o que quiser".
E foi lindo, e difícílimo, e perfeito por alguns anos. Até que a nuvem foi saindo da frente dos olhos.

E um dia me dei conta que cresci, amadureci e mudei.
E que aquele relacionamento não tinha futuro, pra mim, pros meus planos.
Me vi renegando coisas que acreditei que não queria... e fingindo aceitar outras que me incomodavam.

Mas continuava apaixonada. Aos olhos de nossos amigos, éramos o par perfeito.
Poucos meses antes do rompimento, lembro de estarmos num boteco e alguém comentar "vocês vão ser pra sempre". E eu sorri, mas fiquei calada o resto da noite.
Aquela frase doeu, tocou no fundo.
Porque eu não acreditava mais no "pra sempre".

E posso dizer que foi uma das decisões mais doloridas e fáceis da minha vida.
Entender que acabou.
Que não era o que eu queria.
Que não foi erro de ninguém, mas às vezes a vida muda e os objetivos caminham em direções opostas.
(É claro que o rompimento não foi tão fácil assim... bem pelo contrário, eu diria. Mas isso é pra outro post.)

Quase 4 anos passados, vejo como foi importante esse momento.
Saber o que queria, e ser capaz de filtrar.
Encontrar alguém que entende minhas indecisões, mas me deixa livre para descobrir sozinha.
Que tem os mesmos desejos pro futuro.
E que também é outro bobo apaixonado... que sabe que pode até não ser pra sempre, mas que certamente vai ser delicioso enquanto durar.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Sem fôlego

Porque as imagens em nossas mentes são apenas correlações sobre tudo que vivemos e desejamos e almejamos e lutamos e pensamos e que essas imagens nada mais são senão livres associações para todos os dias para que não sejam apenas dias normais para que fujam de todo lugar-comum e voem até o incomum estranho e assim as vidas seguem nessas imagens loucas que jamais saem da mente e nos vigiam e coordenam a seguir vidas sempre de formas comuns mas que também nos obrigam a seguir a vida de formas mais loucas e mais interessantes para que cada dia não seja igual a todos os outros e para que um desses loucos dias possam encontrar ou aquela pessoa quase do seu lado e que pode e vai modificar intensamente tua existência por um simples e aparentemente inútil detalhe e esse alguém estava ali perto no exato momento que tu estavas inteiramente disposto a mudar toda tua vida por um sorriso e naquele momento que deixas na mão do destino e apostas "se olhar pra mim e sorrir, eu posso" e acontece e tua vida muda e tudo muda e tudo agora parece rápido demais sem pausa sem vírgulas sem respirar sem nada e parece que até o fôlego vai embora e tudo escurece e tudo desaparece aos poucos cada vez mais escuro e escuro demais e estranho e solitário e quente ao mesmo tempo mas com certeza frio e inóspito e tudo tudo tudo mais vai embora e começa e acaba e é tão confuso que nada se entende até que...